Ontem foi um daqueles dias que você não dormiu aqui comigo. Às vezes eu penso que estou acostumada, que é só mais um dia, que esperar uma noite ou duas pra ter você de volta é tão pouco perto dos 29 anos da minha vida que esperei por você, mas sua ausência se agiganta ainda mais quando cai a noite.
O dia de ontem transcorreu na sua tranqüilidade habitual, consegui chegar cedo em casa, quando abri a porta do apartamento, uma onda gelada chegou nas minhas costas, eu até cheguei a checar as janelas, crente que alguma tinha ficado aberta. Mas logo o silencio perturbador me ajudou a lembrar que a tua ausência é gelada mesmo, é calada, é cinza.
Piorou quando eu fui tomar banho, tenho certeza que a reforma do prédio afetou nosso encanamento, porque a água hora estava fervendo, hora congelando. Logo me lembrei o motivo.
Eu tinha tido uma crise de insônia na noite retrasada o que me deixou extremamente sonolenta depois do banho. Sai, vesti uma camiseta qualquer, deitei na nossa cama, assim, sem ligar a TV, sem brincar na internet, sem jantar. Simplesmente deitei e dormi, provavelmente antes mesmo de terminar o Jornal Nacional, mas não sei, nem olhei no relógio.
É como se eu sozinha tivesse uma vida pela metade, onde eu só faço o extremamente necessário para a continuidade dela. Só. Nada mais existe além do extremamente necessário para continuar a respirar. Sem você a casa fica fria, a cama vazia, a TV calada, as sombras imóveis. Sem você a rotina fica pesada demais, as horas não passam, eu não me basto.
Sem você a casa não tem filme com pipoca (e choro), não tem banho quente, não tem jantar a quatro mãos, não tem comemoração ao amor com brinde de champagne, não tem musica, não tem conversa antes de dormir, não tem cheiro de shampoo, não tem beijo de boa noite.
E hoje também eu não me espero para jantar!!