segunda-feira, 23 de março de 2009

Baú de Pandora



Eu ando dormindo muito pouco, e hoje, mais uma madrugada clara, na falta do que fazer fui revirar antigas fotos salvas no computador, antigos poemas salvos, crônicas que eu nunca acabei, cartas que eu recebi, documentos que por algum motivos estavam ali, guardados. Ou porque foram importantes, ou porque talvez eu não tivesse coragem de apagar ou foram mantidos para serem resgatados uma noite dessas, de vez em quando.

Muitas dessas coisas eu guardo por pura nostalgia, outras porque simplesmente não consigo apagar, algumas, as mais especiais porque gosto de cutucar minhas feridas mesmo, remexer, tentar ver com um outro olhar, tentar entender porque nunca terminei aquele texto, porque não devolvi aquela resposta, porque não me desfiz daquele espaço.

A outra abordagem que eu faço, nesse momento, inevitavelmente é de como eu e as demais pessoas mudaram. Estou mais velha, obviamente, mas não é só isso. Como mudaram as minhas escolhas, as minhas opções de viagens, os meus momentos de lazer, como eu conheci gente que eu nunca mais vi, como eu estava feliz, como eu me lembro da angustia que eu sentia naquele dia, daquela foto, como eu confiava na pessoa que me abraçava naquele momento e hoje eu sei o quanto me decepcionei.

Os meus textos, igualmente um retrospecto de tanta coisa boa que eu já escrevi e não publiquei, de tanta idéia louca que eu tive em madrugadas como essa, de tantos gritos abafados, resultados de tantas vezes que eu escrevi para não me sufocar, para não embargar, pra conseguir respirar um pouco melhor.

No meio disso tudo, sempre acabo esbarrando em pessoas que se foram, outras que simplesmente se perderam, se perderam de mim ou que me desprendi delas, não sei.

Claro que tem muita coisa legal dentro dessa velharia, tem muita gente que continua do meu lado, segurando minhas pontas, há muitos anos, gente que casou e já estava junto nessa foto que eu acabei de pegar na mão, amigos que se tornaram mais amigos, amigos que também mudaram suas opções, as viagens maravilhosas, os textos que foram publicados na integra e o pessoal da faculdade que se deu muito bem.

Não mexo em todas as gavetas do meu baú, algumas prefiro que permaneçam trancadas, as que hoje foram abertas, serão fechadas, mas sem chaves, para que eu possa ir lá sempre e quem sabe responder aquela carta ou terminar aquele texto.