segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Desventuras na 25 de Março

Pra quem não conhece, a vinte e cinco de março é um centro de comércio popular no centro de São Paulo, lotada de muamba, camelôs, lojinhas de bijuterias, bolsas falsificadas, relógios falsificados, óculos igualmente falsificados e tênis, perfume, roupas e é tudo falsificado, por mais que o chinês que te atendeu diga que não é.

Devem ser umas mil lojinhas amontoadas perto do mercado municipal aglomeradas com mais outros prédios cheio de bugigangas dentro e entre ruas onde passam quase um milhão de pessoas por dia nessa época do ano. E é nessa época do ano que bate a policia federal por lá e fecha quase tudo. E essas milhões de pessoas te espremem nos corredores apertados e você tem andar no mesmo ritmo e na mesma direção do que elas, porque se você parar, quem vem atrás de atropela. Ah, vendo assim, parece a visão do inferno, mas é muito divertido, principalmente a parte que a você tenta estabelecer um contato com os coreanos que são os donos das lojinhas.

Eles não falam uma nisga de português e eu acho que eles moram lá mesmo, num alçapão em baixo das barraquinhas, porque eles brotam do nada, ai eles falam só entre eles, olham pra sua cara se matam de rir.

É bem legal, vende lelózio, catela, emepetlês, pendláve, plocessadô pentium, tudo olizinal, claro. Tudo com galantia, xim, de tlês meses. E vende bolsa da Dizil, plada, cutchi, tudo olizinal, que nem a catela.

Teve uma vez que a minha mãe queria comprar umas mochilas azuis e tinha que ser azul porque era a cor da empresa e o chinês não se entendia que tinha que ser azul, a conversa entre os dois era assim:

Minha mãe: Tem mochila azul?
Chinês: Azu não, tem vemelo, marelo, vedi.
Minha mãe: Tem que ser azul
Chinês: Quaqé cô. vedi, vedi ta bom.

E começou a empacotar todas as mochilas verdes que ele tinha, não sei se ele não entendeu que tinha que ser azul...

Teve uma vez também que a minha mãe comprou um óculos em uma loja e depois achou um igual em outra loja de outro chinês. Ai sente o diálogo:

Chinês: Leva, dona, óculus olizinal.
Minha mãe: Eu acabei de comprar um igual
Chinês: Quanto?
Minha mãe: Cem reais.
Chinês para outro chinês: huhuhuahuahuahauahuahuaha

Achamos melhor sairmos de lá....

As vezes também eles são um pouco mal humorados, teve uma vez que a gente entrou em uma loja e a chinesa veio pra nos atender e falamos o clássico “só estamos olhando” e a descarada respondeu: Se não vai complá, não olha. Juro, é verdade.

Comprar eletrônico lá é muito divertido. Esses dias tinha um MP3 da “çoni” mas que o adesivo da Sony tava colado de cabeça pra baixo. E o vendedor (esse era brasileiro), quando eu perguntei a marca, porque eu achei estranho aquele adesivo de cabeça pra baixo me respondeu: - Ah, não sei, marca nenhuma eu acho, tem um adesivo da Sony, mas é a gente que cola. O.o

Ai eu entendi o motivo do adesivo torto, mas achei melhor nem falar nada, afinal, ele não era chinês e na vinte e cinco a gente tem que comprar só de chinês.

Ai resolvi comprar o MP3 de um outro chinês do fundo da galeria. Porque quanto mais escondida a loja, mais baratas são as coisas.

Eu: Tem MP3?
Chinês: Xim, de tlês, quatro ziga.
Eu: Quanto é?
Chinês: Qualênta tlês.
Eu: E tem desconto em dinheiro?
Chinês: Qualênta tlês.
Eu: E vem com cabo USB?
Chinês: Qualênta tlês. O.o

E tem uns carrinhos de som tocando funk, musica sertaneja, musica velha no meio da rua, que eles usam pra divulgar todos os CDs falsificados que eles vendem, ai você anda e sempre tem uma musica em algum lugar. Tem também uns caras que vendem abacaxi, milho verde, e uns queijos derretidos no meio da rua. O milho é uma delícia. Eu tenho uma tia que é insuficiente renal e ela não pode comer esses milhos, mas se a gente perder ela de vista, pode ter certeza que ela ta escondida comendo um kilo de milho verde.

Essa minha tia é um capítulo a parte, ela é insuficiente renal, faz hemodiálise, tem 1,45 de altura, é um pouco distraída e adora a vinte e cinco de março!! Uma vez ela saiu da UTI em um dia e no outro ela nos acompanhou em uma voltinha por lá. E várias vezes ela vai sozinha mesmo, pega um ônibus e se manda pro centro de São Paulo.

A parte da rua é divertido, além dos carrinhos de música e do empurra-empurra e do cara do milho e do abacaxi, tem uns caras que vendem um apito que modifica a voz quando você fala com ele na boca e eles ficam gritando: Aiiii titiaaaa. Com aquela voz meio de pato donald.

É que na rua eles fazem demonstração de tudo que eles vendem, então, se eles estão vendendo aqueles jogos de bolinhas e raquete, eles ficam jogando as bolinhas um pro outro no meio da rua, ai tem o cara do massageador, que você passa e eles esfregam aquilo nas tuas costas. Tem o cara do depilador de pêlo de nariz, esse eu não vi demonstração, mas eles estão sempre lá. É ai vem o cara do abacaxi te oferecer um pedaço que ele cortou com o super fatiador que ele quer te vender, 3 por R$ 5,00.

O que eu acho legal na vinte e cinco é porque é um lugar totalmente democrático. Lá você encontra sacoleira, patricinha, prostituta, aposentado, bandido, polícia, madame, chinês, coreano, brasileiro e árabes. Acho que essa é a análise mais legal que podemos fazer de lá, é um lugar onde todos são bem vindos e se você se despir de preconceitos, tenho certeza de que vai adorar a Vinte e Cinco de Março.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sobre a Teoria da Relatividade

Um dos filmes que mais marcou minha adolescência foi “Em algum lugar do Passado”. É um filme lindo, em que um escritor se apaixona por uma atriz de 1912 por uma foto dela em um quadro de um hotel. A paixão é tanta que ele encontra uma forma de voltar ao passado e viver esse amor. O filme é maravilhoso e a trilha sonora, perfeita.

Viajar no tempo sempre foi tema de discussões, motivo de instigação... é possível? Einstein com a Teoria da Relatividade, abriu a possibilidade, para que, pelo menos, na teoria isso fosse possível. Hoje sabemos que os cientistas são capazes de tele transportar partículas de um lugar ao outro, quem sabe, não é?

Mas imaginemos que em 1989 alguém tivesse uma máquina do tempo e apertado um botão que transportasse ninguém menos do que Luis Inácio Lula da Silva, até 2008 e o colocasse sentado no sofá da sua sala, ia ser difícil explicar certas coisas...

Aquele Lula se materializa “Puff” na sua sala, meio tonto, você se assusta, mas depois reconhece a camiseta vermelha, com uma estrela branca no peito, com dizeres “Lula la, brilha uma estrela, Lula la um Brasil criança, Lula la”, com aquela cara de 20 anos atrás.

- O que é isso, companheiro? - Onde eu tô?
- Com licença, excelência, mas estamos no futuro. Precisamente em 2008.
- Futuro? Logo agora que vou ganhar do Collor, pô! Nãooo, me manda de volta pro passado! Cadê o Zé Dirceu! Zééé ? Cadê o Zé?
- Calma, Lula. Já que estamos aqui, vamos dar uma olhada no seu futuro!! O Senhor é o presidente da República!
- Sério que eu ganhei?
- Bem, não dessa vez, o Collor levou. Mas depois ele sofreu um impeachment e bem depois o senhor ganhou. Foi eleito em 2002. E reeleito em 2006!
- Eu??? Reeleito? Deixa eu ver, bota aí!!!

E então Lula se estica no seu sofá e diante da sua TV de plasma e assiste a um documentário sobre os últimos 20 anos do Brasil. Um sorriso escapa quando a eleição de 2002 é apresentada.

- Pô, fiquei bonito! Ué, Cadê o Zé?? E o Genuíno?? Aquela ali abraçada comigo não é a Marta Suplicy?
- Não, Presidente, aquela ali é a Marisa Letícia.
- Olha só! Eu e o Papa! E aquele ali, quem é?
- É George Bush, o Presidente dos Estados Unidos!
- Eita eita eita, tem algo errado... Aquele ali abraçado comigo não é o Sarney? Com a Roseana? E o que é que o Collor tá fazendo abraçado comigo? O que é isso? Tá de sacanagem? Que porra é essa?
- Não, presidente. Esse é o futuro!
- AAAAhhhhhh! Olha lá o Quércia me abraçando! O Jader Barbalho! Cadê o Genoíno? Cadê o Zé Dirceu?
- Bem, Presidente, o senhor cortou relações com eles.
- Como que é? Meus amigos? Me separei deles e fiquei amigo do Quércia?
- Pois é...
- E aqueles ali? Não são banqueiros? Porque eles estão sorrindo pra mim?
- Estão agradecendo, Presidente. Os bancos nunca tiveram um resultado tão bom como em seu governo.
- Bancos? Como assim os Bancos? Você tá de sacanagem!!
- Calma, Presidente. O povo gostou, reelegeram o senhor com mais de cinqüenta milhões de votos!
- Mas não pode! Cadê os proletários? Só tô vendo nego da elite ali. Olha o Vicentinho de gravata! E o Jacques Wagner também! Mas que merda é essa?
- É o futuro, Presidente.
- E o Walter Mercado? Tá fazendo o quê ali?
- Aquela é a Marta Suplicy, Presidente.
- Ah, não. Não quero! Não quero! Não quero aquele meu terninho. Não quero aquele cabelinho. Não quero aquela barbinha. Desliga isso aí!
- Mas Presidente, esse é o futuro. O senhor vai conseguir tudo aquilo que queria.
- Não, me manda de volta pro passado. Essa tal de teoria da relatividade é um perigo.
- Perigo?!
- É. As amizades ficam relativas. A moral fica relativa. As convicções ficam relativas. Tudo fica relativo.

Pois é, Presidente, pois é... é que a gente muda com o tempo..

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Sabe a Teoria do Caos? Então...

Diante do momento trágico que passamos em Santa Catarina, não há como não pensar nas ironias da vida, nos caminhos do destino, nas impotencialidades diante de catástrofes, a eterna batalha entre a ordem e a desordem, a harmonia e o caos.

O caos, na abordagem científica da Teoria do Caos, é um comportamento sem lei, inteiramente sem previsibilidade a partir do momento em que a casualidade interfere em uma ordem existente. Cientificamente falando, os sistemas obedecem a leis imutáveis e por isso, previsíveis, no entanto, quando o fator causalidade interfere nesse ambiente provoca irregularidades, é esse o momento do caos.

Exemplificando: Vamos imaginar que o departamento de transito tenha todas as informações daquele ambiente reunidas. Saiba o mapa da cidade, a sincronia de todos os semáforos, a velocidade média de todos os carros, o numero de carros exatos que circulam naquela determinada hora do dia e a origem e o destino de cada carro e coloque todas essas informações em um sistema que possa prever todas as situações possíveis e então manter o trânsito fluindo. Essa é a ordem, o sistema previsível.

No entanto, um único motorista que se distraia e encoste no carro da frente provocando um engavetamento de carros quebrará a ordem instaurada e esse é o momento do caos, quando a eventualidade, a fatalidade, a casualidade interferem em um sistema ordenado ocasionando situações totalmente imprevisíveis. Um relógio como um símbolo de ordem universal tem seus movimentos previsíveis porque suas peças se encaixam perfeitamente, podemos prever seu comportamento em anos.

Por isso, e ainda pensando nas ironias da vida, no destino, acho que nem sempre fazer tudo certo, com regras e metodologias nos dá o controle do nosso futuro e da nossa história. Existe um espaço para o acidental que precisa ser avaliado como fator de impacto no destino. Todos conhecemos histórias de pessoas que no último minuto, por fatores pequenos e acidentais, não entraram em um carro que se acidentou, que perderam o avião que caiu, e de pessoas também que por causalidade estavam onde não deveriam estar no momento de uma tragédia. É a fatalidade interferindo na ordem natural das coisas. É uma simples eventualidade definindo a diferença entre viver ou morrer. É o que os cientistas da Teoria do Caos chamam de “Efeito Borboleta”.

E é por isso que em uma abordagem menos científica, o Caos e sua teoria nos mostram uma perspectiva não sobre o destino, mas sobre uma “idéia de destino”. Classicamente, pensamos que os acontecimentos devem ser aceitos, pois o destino é traçado e seus acontecimentos previstos, no entanto, por essa abordagem, percebemos que temos uma noção de previsibilidade, até o momento que a fatalidade, ou o “Efeito Borboleta” incide sobre essa ordem. O destino, sob essa ótica, até existe, mas ele é modificado toda vez que fazemos novas escolhas.

Talvez eu esteja simplificando demais, justificando uma tragédia como sendo apenas uma desordem no sistema ocasionada por uma fatalidade, mas o fato é que não estamos preparados para o imprevisível, para o incontrolável, para o que nos foge, para o que não conhecemos, para o incerto e no momento em que uma fatalidade nos acomete não encontramos muitas respostas e nem muitas explicações.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Blumenau está de Luto

Eu moro em Blumenau. E eu, como o restante da população, estou de luto. A cidade foi destruída nos últimos dias por chuvas, enchentes, enxurradas, deslizamentos, desmoronamentos, soterramentos, desabrigados, desaparecidos, mortos. Ruas inteiras sumiram, pontes caíram, pessoas foram engolidas pela terra, casas foram arrastadas, pessoas que perderam tudo, seus poucos bens e suas forças. Entre os escombros, fotos, memórias, brinquedos e os corpos de mãe e filha abraçadas. Morreram abraçadas.

É indescritível o cenário de pós-guerra que ficou de uma das mais belas cidades do Brasil. Não é a primeira vez, é bem verdade, Santa Catarina, em um total contra senso às suas belezas naturais, sempre sofreu com intempéries climáticas, no entanto, o desastre do último final de semana foi o pior de toda história. As vítimas não foram escolhidas por sua condição social, nem pelo seu endereço nas periferias da cidade. Casas bem construídas em bairros nobres também se transformaram em um monte de barro.

Serão milhões de reais para reconstruir a cidade, anos de trabalho, mas existem marcas que talvez nunca possam ser apagadas e lembranças que nunca serão esquecidas. No entanto, não subestime nosso povo. Essa cidade tem uma força impar, que trabalha muito, são gerações herdeiras da segunda grande guerra, um povo que não se entrega, que não se cansa e com uma capacidade incoercível de recomeçar. E essa sempre será a nossa escolha

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Amor nos tempos da Lei Maria da Penha

O Brasil inteiro ficou sabendo na semana passada que a atriz Susana Vieira se separou de Marcelo Silva. Só relembrando, eles eram casados e ele já tinha a traído com uma garota de programa em um episódio em que ele quebrou um quarto de motel. Logo depois foi expulso da PM por ser usuário de droga e meses após a amada perdoa-lo, iniciou um caso com essa estudante, de nome Fernanda. A moça após perceber que ele não iria largar a esposa ligou pra Susana Vieira e contou tudo!!! O digníssimo senhor foi atrás da moça e encheu ela de pancada e isso tudo acabou em delegacia, páginas de jornal e em vários boletins de ocorrência contra o ex amante.

A atriz Susana Vieira, expulsou o moço de casa, cortou todas as suas mordomias (suas e de sua família, a quem a atriz sustentava) e se cercou de seguranças para que ele não chegasse mais perto dela. Marcelo Silva, por sua vez, foi na TV, há uma semana atrás falar que amava Susana e que tudo que ele queria na vida era ser perdoado.

Ai, ontem, os dois pombinhos, Marcelo e Fernanda foram a um programa de TV falar em rede nacional que se amam. Ela perdoa ele e ele quer se casar com ela e constituir uma família juntos e serão feliz para sempre!! Hummmm??? Como assimmmm????
Eu não tenho nada com isso, nem com a vida dos dois, ele é na melhor das hipóteses um estelionatário que usa dos seus atributos físicos para conseguir alguma vantagem sobre mulheres vulneráveis. Não é nada pessoal contra o Sr. Marcelo Silva, porque isso não é problema meu, é caso de polícia. Minha indignação é com essa Fernanda, a ex amante, ameaçada de morte e espancada por ele, porque eu não consigo entender o conceito de amor sustentado em agressão, em ameaças, em traições.

Vivemos em um país livre, fui criada para repudiar qualquer manifestação de violência e é assim que criarei meus filhos. Acredito, sobretudo na capacidade que o ser humano tem de amar, vivemos em uma época da lei Maria da Penha, onde as agressões físicas contra mulheres são tratadas com rigor e a punibilidade contra os agressores é cobrada. Sou uma representante das mulheres que vivem, trabalham, estudam, batalham, decolam um avião por dia, criam seus filhos, amam e buscam ser amadas.

Ainda não aceito, no entanto, entendo, as condições sob as quais algumas mulheres por dependência física ou emocional do companheiro acabam se submetendo, por falta de opções ou oportunidades. Mas não é o caso da estudante citada, é bem nascida, estudada, bem criada, também amada por sua família e amigos. Ela está cheia de opções e de oportunidades.
O fato narrado é triste, para nós mulheres que tanto lutamos por dignidade de tratamento por parte dos nossos companheiros, que vivemos uma realidade que custou a vida de muitas mulheres, que foram mortas e antes, violentadas e espancadas. É triste saber que a luta de vida dessas pessoas não modificou a realidade de alguns. É mais triste ainda ver uma violência justificada como um ato de amor, não se ama quem nos machuca. Não sei, tenho um outro conceito de amor.

Espero uma sociedade mais justa e um tratamento mais pacífico entre as pessoas, mas temos todos uma responsabilidade velada por nossas opções. Somos nós quem construímos nosso destino a partir das escolhas que fazemos.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A vida é a arte do desencontro

Eu mesma já falei muito sobre que o que importa realmente na vida são os laços e encontros que fazemos. É verdade. Mas se a vida é a arte do reencontro, os desencontros fazem parte de uma outra abordagem, mas nem por isso, menos importante.

Sabe aquela história de que a vida ta cheia de personagens inúteis, de casos estúpidos, que a vida parece um romance mal feito? É mais ou menos por ai.


Você anda por ruas onde eu não passo. Você olha para onde eu não te encontro e quando você me acha, nos perdemos. Por medo, agonia ou simplesmente segurança, nos perdemos. Eu à você, você à mim.

Sei onde fica a tua casa, na verdade é perto demais, as vezes consigo te ouvir de noite, mas é que eu não sei o que te dizer quando eu te ligar, nem sei que desculpa usar por estar parada na sua porta.

Te vejo de um canto escuro, teu vulto se movimenta quando escuta o telefone tocar, mas já é tarde, eu desliguei porque eu ainda não sei o te dizer. Te olho sem jeito, ainda não sei se eu tentei realmente tudo que eu podia.

Te insulto cada vez que você me procura, te odeio cada vez que você se aproxima demais. E acabei de lembrar que te mandei embora da minha vida pra sempre semana passada. De qualquer forma, ainda estou pensando na desculpa por estar parada na porta da sua casa

sábado, 13 de setembro de 2008

Todo fim é um novo começo

Dentre todas as lições que a vida nos ensina, começo a achar que uma das mais importantes é aprender a reconhecer quando uma etapa chega ao fim.

E chamamos isso de encerrar ciclos, fechar portas, partir para outra, virar a página. Não importa que nome você prefira, no fundo, isso sempre significa deixar para trás um passado, uma história, um capítulo de vida. Difícil ou não, é isso que nos liberta para a chegada do novo.

Posso passar o resto dos meus dias tentando entender as razões pelas quais as coisas acabam, terminam ou posso reconhecer que não se pode estar no passado e no futuro ao mesmo tempo e que para dar lugar ao novo eu preciso deixar o velho. Pode parecer obvio, mas nem sempre é fácil.

Certezas ninguém tem, mas ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. No entanto, não fiz nem um fio de cabelo meu de modo que no fundo não sou dona de nada e assim, não posso temer pelas minhas escolhas.

E, se conselho serve para alguma coisa... acho que é por isso que é essencial mudar de casa, de roupa, de direção, doar roupas, livros e brinquedos, o novo precisa de espaço para poder entrar, as vezes é importante até se livrar de recordações e lembranças antigas, até no nosso coração existem espaços ocupados por aquilo que já não nos importa mais.

Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Eu te odeio tanto que não atendo mais os seus telefonemas e seus convites não me interessam mais.

Eu te odeio tanto que evito seu olhar, fujo das suas esquinas e acho que não suportaria ficar nem um segundo sozinha com você.

Isso tudo nunca foi importante, na verdade, houve um momento em que foi, um pouco, talvez, logo depois, não sei em que momento do filme eu dormi, quando eu acordei, as luzes estavam acesas e você tinha ido embora. E eu fiquei te esperando, acho que de certa forma, eu ainda espero.

E isso não faz parte, e isso não era pra ter sido assim. O caminho normal, a curso esperado é que desandou. Eu só não sei em qual parte é que a gente se perdeu, ainda não achei. Porque o normal é para os casais normais, não para nós dois. Nós não somos nada. Nunca fomos.

É por isso que eu te odeio e te desgraço todos os dias. Não aceito, brigo, te esporro, te espanco e choro, e se te busco, não te acho, e se te encontro, te escapo. E assim, em um ciclo sem fim, te olho ainda, como se fosse da primeira vez.

Mas não ligue para nada disso, são palavras soltas, dispersas e sem importância.

Acho que você não entenderia isso, porque você nunca soube, e pra quem não sabe nada, entender algo é luxo.

Eu ainda levo a vida do mesmo jeito, mas acho que me tornei uma pessoa pior, ainda durmo mal quando chove e tenho frio nos pés e não sei de onde adquiri o hábito de ficar olhando para a porta...
Isso não tem cura, meu amor.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Decisões

Que me desculpem a contradição à outras coisas já escritas, mas acho que a vida, em si, não ensina nada. Essa conversa de que a vida nos ensina pelo amor ou pela dor, acho que não é totalmente correta.

Sou eu quem decido, a todo segundo, por cada decisão tomada, por mais simples que seja, que lição eu vou tirar da vida. O que eu faço com as alegrias e tristezas, surpresas e decepções é que compõe cada capítulo da minha história. Ou aproveito cada lição ou sigo empurrando os dias, um após o outro.

Todo mundo tem problemas, cada um sabe onde aperta o calo e onde dói a ferida. Cada um sabe o preço de ser o que se é. Coisas boas e ruins acontecem sempre, não é exclusividade sua, nem minha. Acontece com todos, sem distinção.

Não é possível viver sem problemas, nem tomar remédios que diminuem saudades e encurtem distâncias. Não posso também cobrar o amor de ninguém, nem obrigar as pessoas que aceitem as coisas como eu acho que elas devem ser.
O que eu vou fazer com as situações que a vida me coloca é que me torna uma pessoa diferente das outras. O que eu faço com essas experiências é que as torna lições.

Posso ficar reclamando por ter que levantar cedo ou posso tornar meu trabalho mais motivador. Posso odiar quem puxou meu tapete ou posso tentar compreender suas razões. Posso chorar pelo fim ou sorrir pelo novo. Posso ser nostálgica ou aprender a arte do recomeço. O hoje nos apresenta uma chance diária de fazer diferente, porque somos, realmente, as decisões que tomamos.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Murphy estava certo

1) Trabalhe, trabalhe e trabalhe, a menos que você ganhe na mega sena ou receba uma herança, não há outra forma de conseguir as coisas.

2) Metade das pessoas que você conhece estão abaixo da média intelectual. Então, não perca seu tempo tentando explicar alguma coisa a quem você sabe que não vai entender nada do que você disse. Tente desenhar ou fazer mímica.

3) Tente entender a Teoria do Caos.

4) Assista o filme “Um dia de fúria”. Nunca se sabe quando vai precisar usa-lo como argumento.

5) Você tem mais inimigos do que amigos. Aceite isso e fique feliz por isso, os Inimigos pelo menos, você sabe exatamente quem são. Os amigos, bem... nem sempre.

6) As suas decisões tem metade de chance de darem certo e outra metade de darem errado. Lembre-se que a grande maioria das decisões são tomadas mais porque a gente se cansa de pensar no assunto do que por nossas certezas.

7) Certezas não existem.

8) Se você tentou fazer alguma coisa que deu errado, conserte tudo rapidinho e destrua todas as evidências.

9) Você só vai conseguir experiência em algo depois que precisar dela.

10) Entenda que a vida é dolorosa, quem disser o contrário está tentando vender alguma coisa. E se ele estiver usando camisa de manga curta com gravata, ele é vendedor de Barsa.

Ajoelha e Reza

Eu tenho uma teoria...

Eu estava, outro dia, em uma livraria quando me deparei com “O Segredo”. Não vou nem comentar aqui o que eu penso sobre esse tipo de literatura. Mas o que me chamou a atenção era que o livro era comentado por ninguém menos do que Ana Maria Braga.

Bem, respondi à vendedora que eu dispensaria a grande obra literária, de grande profundidade, escrita por tão grande autora. O que me irrita nesse tipo de literatura do tipo “fique rico com o poder do pensamento” é que eu, reles mortal, que nunca tive nada caindo do céu. Acho que eu e a maioria das pessoas que eu conheço. E não foi com a força do pensamento que eu consegui alguma coisa.

Até concordo que pensamento negativo atrapalha, é ruim, mas ai é mais uma questão holística do que de prosperidade. E até parece que a vida é assim, tão fácil não é? Então, você agora ignora as contas para pagar, o teu chefe, os quilos a mais, o cara que te fechou no trânsito e faz pensamento positivo, mas pensa com fé, senão não funciona.

Volto a dizer, não sou contra corrente positiva de vibrações, orações, energias, etc. Só acho que não posso me dar ao luxo de fazer pensamento positivo esperando o efeito do cosmo sobre mim enquanto o mundo gira.

E falar em roda gigante... bem, não falei em roda gigante, mas ela também gira. Parece que tenho uma na ponta do meu nariz e tomo o maior cuidado pra não derrubar ela. Então pra ela não cair, eu juro que não vou escrever sobre o episódio dos três meninos mortos pelo exército no morro da providência no Rio do Janeiro.

Não vou falar disso porque cansei, já esgotou minha paciência esse discurso. Posso, no máximo, falar disso junto com a piada do português que eu aprendi ontem e posso te contar a piada e você vai esquece-la junto com a história dos três meninos, porque nossa memória é curta e a realidade é dura, meu caro. E ai vale tudo, vale até fazer pensamento positivo.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Arruda e Vela Amarela

- Eu te odeio, quero que você morra!!

Bem, “eu te amo” não diz tudo em uma relação de amor, mas “eu te odeio” também não diz quase nada em uma discussão acalorada. O fato é que as palavras são muito mais influenciáveis pelo momento em que são ditas do que deveriam.

Como dói não é? As vezes é preferível levar um bom tapa na cara do que agüentar o corte perfurante de palavras soltas que geralmente machucam justamente pelo que guardamos de mais valioso, quando atingem o bem que com mais carinho é guarnecido.

Pode ser o amor duvidado, a fidelidade questionada, a confiança na berlinda, lembranças esquecidas, dívidas enterradas, sonhos desacreditados, histórias rasgadas. Cada um sabe onde dói mais o calo, literalmente pisado.

Faz parte. Inevitavelmente, as pessoas que você ama ou que amam você irão te magoar algum dia. Pode até ser. Mas isso não faz as coisas serem mais fáceis, nem ao menos faz elas parecerem mais fáceis.

Esse discurso de forma nenhuma tem a pretensão de ser uma solicitação oficiosa de que você, que disse o que não devia, peça desculpas. De forma alguma, não sou juiza, nem conselheira, nem inquisitora, nem santa, nem vítima.

Mas acho que vale sim, abrir o assunto. Quanto vale uma pisada de bola dada com um amigo? Quanto valeu o desabafo inoportuno? Em qual momento tudo aquilo deixou de ser uma discussão, tão somente? Qual o bem tão meu, foi atingido em uma frase infeliz? Quantas vezes um conflito tomou proporções maiores do que deveria? Compensou?

Pois bem, colega, como já disse em outra oportunidade, isso é só um monte de frases gramaticalmente alinhadas e premeditadas e que no fundo, não resolve muita coisa, mas falar, exorciza alguns pesares e alivia certas dores.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Algumas coisas que a gente leva anos para aprender e outras tantas que nunca aprenderemos

(Estou aceitando sugestões para aumentar a lista)

1. O mal do século, realmente, é a solidão.

2. Nem todos as pessoas de cabelo branco merecem respeito. Alguns canalhas que prendem a própria filha em cativeiro como escrava sexual por 24 anos, também envelhecem.

3. Se alguém é muito bom para resolver qualquer problema, mas não sabe como gastar seu tempo livre aos finais de semana, ele não é assim, tão bom.

4. A vida é muito fácil e qualquer coisa consegue se tornar difícil rapidinho, o que difere é a forma como vemos o mundo.

5. Nem todas as nossas certezas são universais e eternas.

6. Coincidências existem.

7. A força que move o mundo é a especulação, as pessoas cuidam mais da vida dos outros do que da sua própria.

8. “Eu te Amo”, realmente, não diz tudo.

9. As circunstâncias é que determinam o resultado de qualquer coisa que você faça.

10. Não existe remédio para culpa e para o tempo perdido.

11. Os encontros e os laços que temos e fazemos na vida é o que importam verdadeira e, essencialmente.

12. Não fomos salvos por Deus, pelos psicanalistas e nem pela esquerda. Geralmente quando algo dá certo é por mérito próprio.

13. Einstein dizia que duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Eu continuo em dúvida sobre o Universo.

14. Existem coisas que nem todo o tempo do mundo apaga.

15. Construímos nosso destino mais na forma como fazemos nossas escolhas do que imaginamos.

16. Heróis e heroínas existem. Ao longo da história muitos homens e mulheres mudaram o mundo, descobriram curas, morreram por suas causas ou até por causas alheias, desacorrentaram nações e fizeram um país inteiro sonhar.

17. A vida vale a pena quando temos alguém pelo qual, sem ela, não valeria a pena viver.

18. Nossos pais tinham razão sobre quase tudo.

19.Não devemos nos levar tão a sério.

20.Que ou você controla seus atos, ou eles, inevitavelmente, o controlarão.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

...

Isso nao é meu, seria muita pretensão tentar chegar perto...


"Se procurar bem, você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida."

Isso é Drummond, meu amigo...

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Do quase ao tudo

Sou quase cansada, um pouco por conseqüências, um pouco por excessos.
Sou quase nostálgica, um pouco pelo fim, um pouco por saudade.
Sou quase abusada, um pouco por instinto, um pouco por medo.
Sou quase solitária, um pouco porque quero, um pouco por acaso.
Sou quase preto e branco, um pouco pela beleza, um pouco por simplicidade.
Sou quase lúcida, um pouco por necessidade, um pouco por arte.
Sou quase constante, um pouco por sobriedade, um pouco por desatino.
Sou quase de passagem, um pouco por essência, um pouco por brincadeira.
Sou quase alecrim, um pouco pela calma, um pouco pela cor.
Sou quase de verdade, um pouco porque me disseram, um pouco porque acreditei.
Sou quase arco íris, um pouco pelo fosco, um pouco pelo infinito. Sou quase feliz, um pouco por mim, um pouco por tudo.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Mulheres pra nunca mais

Recentemente, dois amigos meus se separaram. Em comum, os dois tinham duas mulheres que não souberam valorizar seus homens. Sorte deles. Isso me fez pensar em todas as mulheres que eu conheço e do pouco que eu já vi e vivi, sei que há mulheres de todos os jeitos (as melhores e as piores).

Inteligentes, outras nem tanto, loiras, morenas, ricas, pobres, cultas, vazias, batalhadoras, insensíveis, de humanas e de exatas. Todas com suas belezas, feições, idades, poses, cheiros. Pois bem, mas isso é só uma questão de casca, o que importa mesmo são os detalhes que diferenciam aquelas pra “vida toda” e aquelas pra “nunca mais”.

Mulher pra vida toda é aquela companheira, linda por essência, convicta de que o cara sabe o que faz, é bom no que faz, não fica ligando cinco vezes por dia, que não resolve discutir a relação no meio de uma reunião de trabalho, que apóia incondicionalmente todas as decisões que o cara toma.

Mulher pra nunca mais é aquela que põe defeito em tudo, que reclama desde a hora que acorda, que tem que estar sempre azucrinando e falando da vida de alguém. É aquela que adora um “piti” por email, que tem ciúme e compete com a ex, com a sogra, cunhada, a amiga, com a secretária, com a prima...

Mulher pra nunca mais não tem profissão, se ocupam da atividade de encher o saco dos outros, é fútil, interesseira, não se importa com os outros e implica com os amigos do cara (sempre), se faz de vítima sempre que a verdade lhe é jogada. É passional, não apóia nenhuma mudança que o cara quer fazer, com medo que dê errado.

Mas, a mulher pra sempre, ajuda a escolher a roupa, dá uns toques no corte de cabelo, divide os problemas do trabalho no fim do dia, sonha com férias de final de ano, é amorosa com os animais, crianças e idosos. Incentiva a casa cheia, gosta dos amigos dele, acompanha no vinho, divide as contas e os sonhos.

Mulher pra nunca mais, debocha e ri do cara na frente de todo mundo, faz questão de deixar ele mais pra baixo ainda, diz que seus sonhos são uma besteira e que ele só fala bobagem.

Pra aqueles meus dois amigos, os mais novos solteiros do pedaço, bem, diz a máxima que atrás de um grande homem sempre tem uma grande mulher...

Hummm, discordo um pouco, acho que o homem, quando é grande, é grande até sozinho e que uma mulher pode ate ajudar, não sei. Sei que uma mulher quando é chata, na vida de um homem, atrapalha um monte, isso sim...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Farmakon

Eu tenho uma teoria...

Acho que todo mundo tem um manual de instruções, uma bula, quando, onde e principalmente como ser manuseada, não posso falar pelos outros, falo por mim, por mérito e por convicção.

Se me ver, pode chegar perto, mas não invada muito bruscamente porque posso me assustar, mas também não muito devagar, porque eu posso dormir.

Não use da estupidez comigo, porque costumo ser intolerante com esse tipo de atitude, também não levante seu tom de voz porque eu posso revidar.

Durmo muito e acordo de mal humor de manhã, então, até eu absorver a idéia de que eu estou acordada, não faça movimentos repentinos.

Faça cafunés, toque os meus pés e não precisa ser sincero, basta ser convincente ao dizer que eu sou linda mesmo de chinelo e camiseta branca.

Ando com as minhas próprias pernas, por isso fazer com que eu perceba sua ausência pode ser mais eficaz do que me sufocar com a sua constante presença.

Procure me deixar horas em um restaurante, tomando vinho e falando sobre coisas inteligentes, não precisa ser uma revisão da lógica de Kant, mas desde que eu não tenha vontade de ir embora e que eu dê boas risadas.

Mas por favor, falar em rir, escolha bem suas piadas e pense duas vezes antes de me contar, porque não tenho muito bom humor para piadas.

Sugiro algumas viagens antes de me conhecer, alguns livros e algumas boas músicas e uma dose extra de algumas decepções, para que você não espere muito de mim e para que eu possa ter a oportunidade de te surpreender.

Por favor, não seja leviano e acredite no que eu falo, mas acredite também nas minhas mentiras, tenho o péssimo hábito de fazer jogos com palavras só pra confundir.

Respeite minha necessidade de ficar sozinha as vezes, e nessas horas, volte só se eu te chamar, mas nem por isso me obedeça sempre, eu erro as vezes e gosto de pessoas mais fortes do que eu e que mais do que isso, demonstrem essa fortaleza de vez em quando.

Se vista bem, mas saiba chamar minha atenção com a camisa pra fora, mas principalmente deixe a barba por fazer e o cabelo bagunçado.

Tome decisões, mas não tente toma-las por mim, escolha seus caminhos, trace suas rotas e não dependa de mim pra fixar seu norte.

Escolha suas músicas e seus livros, mas leia-os e leia-os de novo e de novo, leia os clássicos, mas não se intimide com o novo.

Não precisa saber lavar, passar, cozinhar, alias, se puder odiar a vida doméstica e preferir surfar ou voar ou caminhar ou cavalgar, melhor.

Goste do agito da noite, mas prefira um jantar a dois, ser menos da noite e mais da vida faz parte da maturidade.

Se interesse também por desenhos animados, principalmente os antigos e por isso seja um pouco nostálgico, mas não seja triste, não gosto de gente triste ao meu lado, não sei lidar bem com isso, mas se interesse também por filmes, jornais e atualidades, mas sem se tornar escravo da televisão.

Aliás, nem da televisão, nem do emprego, nem de mim e nem de nada, só poderemos andar juntos se cada um andar com as próprias pernas. E por isso não seja nem meu escravo, nem meu amigo e principalmente não queira ser meu pai e muito menos meu filho.

Esporadicamente, faça uma loucura por mim, me mostre o lado insano das coisas, me surpreenda.

Goste de vinho, entenda de vinho, entenda de vinho, chocolate, arte e sexo.

Goste de mais vinho e menos de cerveja e por favor, saiba beber com elegância, saia com seus amigos e não me conte todos os seus segredos.

Chore, tenha insônia, eleja uma contravenção, cometa menos excessos e mais pecados.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Eu sou eu e as minhas incoerências

Carrego culpas de estimação, Aposto certa somente dos meus instintos, Trago uma leve percepção do escuro, uma cômoda turbulência, e uma perdoada loucura.

Construo meus castelos primeiros em devaneios, depois pinto-os no real. Tenho uma inconstância quase companheira, pequenos medos de ter grandes coragens.

Brinco com o impossível, choro sem derramar lágrimas, admiro meus desafetos e desconfio dos meus amigos. Não tenho medo de morrer, mas pavor de chuva.

Não guardo mágoas e esqueço com facilidade o que eu um dia jurei que era importantíssimo na minha vida. Prefiro espelhos do que fotos passadas, prefiro transgressões a juras, o amargo ao doce, o veneno ao remédio.

Levo tudo a sério, com exceção de mim mesma, você também não deveria me levar. Faço mais do que eu devo e bem menos do que eu poderia. Digo sim na maioria das vezes, mas digo não uma vez só. Busco sem saber onde quero chegar e comumente percebo que as coisas mais valiosas estão ao meu lado.

Não economizo nem dinheiro, nem elogios. Acredito mais nos pais do que no senso comum, Escrevo por linhas tortas a maioria das vezes, me compro e me corrompo com coisas baratas. Acredito em fadas, bruxas, olho gordo, simpatias pra Santo Antônio e geralmente em quase tudo que me falam, mas estranho reações próximas e as vezes previsíveis, geralmente as minhas próprias.

Choro por causas alheias, compadeço por desconhecidos, faleço pelo dia e desperto pra ver a lua cheia. Não ando de cara lavada, mas se eu pudesse andava descalça, todo dia, o tempo todo. Travestida com roupas caras, gosto mesmo é de camiseta velha. Carrego duas tatuagens e incontáveis marcas, essas, muito maiores. Sou abusada e minha razoabilidade é mais por insegurança do que por sensatez. Não tenho pudor, em quase nada, mas sofro de uma timidez notória. Ainda durmo com minha mãe em noite frias e espero meu pai na porta de casa. Afinal, mesmo com a complexidade inerente à minha condição, eu não sou mais do que as minhas incoerências.

domingo, 6 de abril de 2008

Retratos

Faço pactos comigo, minto pra mim mesma e invento monólogos pra me distrair.
Alço vôos, traço rotas, embrenho em caminhos que eu não sei sair.
Meus passos largos, cabelos ao vento e sonhos que eu desisti.
Levo tudo comigo, planos, prosas de solidão, versos rasgados e uma bagagem de mão.


Rolo os dados, procuro desculpas, provoco brigas por causas que eu não acredito.
Arrumo bagunças antigas, roubo no jogo de cartas, vivo em um castelo de areia.
Meus olhos baixos, meu andar apressado e as cartas que eu não escrevi.
Deixo tudo como está, os medos, as amarras, os rascunhos e a sala de estar.


Vejo os mesmos rostos, repetidas histórias, imagino trilhas sonoras.
Falo mais baixo, fico perto e empunho uma espada que eu não sei usar.
Meu grito abafado, uma luz que incomoda e os poemas que eu não decorei.
Dou tudo como recompensa, os pecados, as correntes, as louças e uma crônica inacabada.


Enfrento minha incoerência, teço uma prece, me agarro a tudo que acho certo.
Olho com vendas, volto a pé, caio acidentalmente em lugares imaginários.
Meu chorar desajeitado, minha inércia conhecida e as juras que eu não cumpri.
Ganho tudo como prêmio e um dia quem sabe eu acabo aquela crônica.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Dor-de-cotovelo

Eu tenho uma teoria...
Por que alguns amores nos assombram pelo resto da vida? Porque não conseguimos nos livrar da lembrança de certas pessoas? Entra relacionamento, acaba relacionamento e por vezes, você se pega procurando alguém igualzinho ou bem parecido para substitui-lo. Seja muito bem vindo, pois quase a totalidade da população mundial sofre de dores mal curadas, paixões mal resolvidas e qualquer outro nome que você queira dar para a “dor-de-cotovelo”.
E como dói, mas o mais estranho é que as dores-de-cotovelo nos doem de uma forma patológica, isso mesmo, patológica, como se fosse uma doença, um mal antigo, um dente do ciso, algo que de vez em quando aparece e dói. As vezes, passam-se dias, semanas, meses, anos e os dias transcorrem na sua normalidade e em uma manhã qualquer, uma noite qualquer, ela volta, de mansinho junto com todas as lembranças do que vocês viveram, ai ela aumenta, e começa a doer pra caramba, chega a sair lágrimas dos olhos, de tanto que dói.
Acho que o que dói mesmo é a coisa não vivida, o quase amor, o não ter feito, o não ter sentido, o não ter acontecido, o não ter falado, o não ter feito, o não ter resolvido. Dói porque acaba quando ainda se faltava muita coisa para fazer, quando ficou muito a ser dito, quando o amor não é vivido e quando falta isso tudo, conseqüentemente sobra fantasia, idealizações, sonhos recheados de casa de praia, cachorro labrador e edredons em noites de frio.
Mas médico nenhum diagnostica isso e também ainda não inventaram remédio que a cure ou que pelo menos amenize-a, existem sim, soluções paliativa, como sair com as amigas, devorar uma caixa de chocolate, comprar uma calça nova, abraçar uma criança, tomar um banho de mar, pisar na grama, ver desenhos nas nuvens, olhar as estrelas, ver desenho animado, tirar o dia de folga, ver o dia amanhecer, ver o por do sol, jogar pedrinhas no rio, sei lá, qualquer coisa que te faça sentir viva e sufoque o vazio que fica.
O problema é que os amores precisam dar a volta, fechar o ciclo, voltar-se em si mesmo, é isso que nos deixa livre, mas como esse é um processo mais complexo que a explicação da origem do universo, o consolo é que tirando os dias (e as noites, sempre as noites...) em que a dor-de-cotovelo incomoda, você até consegue conviver com ela, é só você não cutuca-la e ela não te machuca.

sábado, 29 de março de 2008

Por que compensa?

Eu tenho uma teoria...

A ciência diz que a morte é quando o corpo não responde mais aos sinais vitais e não reage a nenhum estímulo. Pois bem, eu, na minha insignificância vou dizer o que eu acho da morte.

Morremos quando deixamos de sonhar, de ter esperanças, e concordo com os especialistas principalmente na parte do “não responder aos sinais vitais”. Acho que quando a gente não responde mais aos sinais vitais deixamos mesmo de viver. Mas sinal vital é muito mais do que ter o coração batendo e o pulmão respirando.

Dizer que alguém está vivo só porque o coração está batendo é limitar demais nossa condição. Estamos vivos também porque temos amigos, família, rodas de bar, filmes do Almodóvar, torta de maracujá, lua cheia, cremes anti-rugas e quase sempre temos uns aos outros. E isso é fundamental, essencial, vital.

Vital é a paixão, ciúme, raiva, sol, praia, pés na areia, frio na barriga, água, suor, dor de cabeça, mágoas, elogios, momentos, projetos, beijos, filhos, café, Chico Buarque, Cazuza, Oswaldo Montenegro, e um Noturnos de Chopim. É a dança, a graça, os cheiros, sabores e gostos, amores e desamores, os meus, os seus, os nossos medos, fatos, as verdades e mentiras de cada um. Temos ainda pistache, manhã de feriado e Drummond.

É vital porque a vida, por isso tudo, acima de qualquer coisa, faz valer a pena. E quando chegar o acerto de contas (sem nenhuma conotação religiosa de juízo final), aquele acerto de contas, você com você mesmo, aquele de quando a brincadeira acaba e contabilizamos os pontos, sabe o que acontece? A gente ignora a partida, sorri e brinda ao descobrir que compensou morrer de tanto viver.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Fake Love

Eu tenho uma teoria...

Certa noite dessas, conversando com um amigo, vínhamos filosofando sobre o amor, sobre a veracidade da alma gêmea, é porque, sim, claro, chegamos a questionar sua existência, e acabamos percebendo que vira e remexe acabamos caindo na mesma pergunta sem resposta: Por que estamos sozinhos?

Não, definitivamente, nem eu, nem ele temos perfil para solteirões convictos. A solteirisse é uma condição e não um estilo de vida. E chegamos à clássica conclusão de que estamos sozinhos por opção, mas por opção dentro das alternativas que temos, o que é bem diferente de querer estar sozinho, de cultivar a solteirisse. Nossa opção se dá por faltas de alternativas, e porque não dizer, porque somos românticos demais para um mercado que banalizou o amor e as suas formas.

Sabe o que eu acho? O Amor exige coragem e hoje, encontramos um grande numero de covardes amontoados e escondidos dentro de suas próprias frustrações.

É bem mais fácil falarmos que estamos sozinhos por opção, é mais fácil do que admitir que aquela pessoa é perfeita demais para os seus planos medíocores e que não cabe nos seus sonhos.

O amor exige demais, e nos tempos de fast-love, é uma grande dificuldade e pesar aceitar que não se pode, ou não se é capaz de amar de verdade. É isso que eu acho sim, falta coragem para amar de verdade. É, porque há o tipo fake de amor, aquele por conveniência, por consumo, programados para durarem uma noite, baseado no domínio e na razão, que servem para legitimar uma conquista, não é desse que estávamos falando. Esse tipo, tanto eu, quanto o meu amigo, aquele que originou toda essa conversa, temos nomes suficientes para fazer uma boa lista. Desse estamos cheios, fartos e porque não dizer, cansados.

O fato é que, viver é fazer decolar um boeing por dia, viver a dois é tarefa ainda mais árdua. Em tempos de competitividade e individualismo, defender-se e esconder-se em sua mediocridade, parece ser mais fácil do que entregar-se.

A conversa terminou, quer dizer, não terminou, porque falar de dores emocionais é a própria história sem fim, é um assunto que nunca se escassa, nunca acaba, mas enfim, finalizamos, pelo menos por ora, nos perguntando, se o amor a que nos referimos e a quem culpamos pelo vazio que sentimos existe mesmo, porque o idealizamos em uma conjuntura perfeita dos poetas do século 12 com as cenas do cinema americano.

Não conseguimos responder essa pergunta também, ela ficou na pauta pra próxima roda de bar, mas falar, mesmo que redundantemente sobre o mesmo assunto, alivia certas mágoas e exorciza os pesares.