Escrita em 2006.
Obviamente que eu me preocupo com as contas, com a estabilidade financeira e emocional, com as horas de sono e com a minha sanidade, mas em contra partida, nutro um sentimento de desapego à tudo que não considero essencial.
E é sobre isso que eu gostaria de falar. Percebi que eu não preciso me preocupar, me viro em qualquer lugar do mundo, falo inglês, arranho um espanhol, entendo um pouco de francês. Bem... já são várias opções...
Não tenho doença degenerativa, não tenho alergia a nada, não sou fresca, enxergo bem, ouço bem, meu coração ta meio cansado, mas ta funcionando bem. Malho quase todo dia, o que me garante uma resistência boa, ou seja, se eu quiser sair andando por ai, eu também poderia.
Vivo bem sem algumas mordomias como carro, computador, celular e Ipod, de modo que não são esses pequenos-falsos-luxos que me prenderiam aqui.
Não sou insubstituível, podem achar alguém pro meu lugar no trabalho, não tenho fortunas em aplicações, declarei meu imposto de renda, não tenho credores nem devedores, nem estou para receber uma herança, de modo que eu não quebraria a Bovespa se eu resolvesse me mandar.
Tenho poucos móveis, eu poderia doa-los, ficaria com poucas coisas, as mais leves de preferência. Tenho um carro, mas que nem está pago, então, com os juros comensais que estão embutidos no financiamento, eu poderia simplesmente rescindir o contrato devolvendo-o para o banco.
Já dei aula de inglês e como sou brasileira posso dar aulas de inglês e português. Isso já me permite trabalhar em qualquer lugar do mundo.
Eu não preciso nem estudar, eu me formei em direito e não advogo, então se eu tivesse ido pescar em vez de ir para a faculdade, por este ponto de vista, teria dado no mesmo.
É bem verdade que eu sentiria uma saudade gigante da minha família, mas hoje em dia tem internet e as distancias se encurtaram, o mundo realmente ficou plano.
Poderia.... Ou não!!!
Eu não poderia sair sem destino, eu continuaria com a minha carreira de advogada-meioquesemsaberseéissomesmo-executiva e abriria mão do mundo de incertezas para levar uma vida previsível e bem sucedida (?). Pagaria um preço alto, é bem verdade, continuaria trabalhando 14 horas por dia, vendendo muito caro o meu tempo aqui nessa vida.
Mas se o preço é alto de qualquer forma eu prefiro pagar com a sensação de que a vida é um sopro, uma brisa. O fato de não ter nada e de não querer ter nada e nem ser grande coisa é que me fascina. Era dessa liberdade que eu estava falando.
Pode ser que eu nunca largue a minha “boa” (??) vida para viver sem lenço e sem documento, mas gosto de pensar que eu poderia fazer isso quando eu bem quiser.
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Há 3 dias