segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Desventuras na 25 de Março

Pra quem não conhece, a vinte e cinco de março é um centro de comércio popular no centro de São Paulo, lotada de muamba, camelôs, lojinhas de bijuterias, bolsas falsificadas, relógios falsificados, óculos igualmente falsificados e tênis, perfume, roupas e é tudo falsificado, por mais que o chinês que te atendeu diga que não é.

Devem ser umas mil lojinhas amontoadas perto do mercado municipal aglomeradas com mais outros prédios cheio de bugigangas dentro e entre ruas onde passam quase um milhão de pessoas por dia nessa época do ano. E é nessa época do ano que bate a policia federal por lá e fecha quase tudo. E essas milhões de pessoas te espremem nos corredores apertados e você tem andar no mesmo ritmo e na mesma direção do que elas, porque se você parar, quem vem atrás de atropela. Ah, vendo assim, parece a visão do inferno, mas é muito divertido, principalmente a parte que a você tenta estabelecer um contato com os coreanos que são os donos das lojinhas.

Eles não falam uma nisga de português e eu acho que eles moram lá mesmo, num alçapão em baixo das barraquinhas, porque eles brotam do nada, ai eles falam só entre eles, olham pra sua cara se matam de rir.

É bem legal, vende lelózio, catela, emepetlês, pendláve, plocessadô pentium, tudo olizinal, claro. Tudo com galantia, xim, de tlês meses. E vende bolsa da Dizil, plada, cutchi, tudo olizinal, que nem a catela.

Teve uma vez que a minha mãe queria comprar umas mochilas azuis e tinha que ser azul porque era a cor da empresa e o chinês não se entendia que tinha que ser azul, a conversa entre os dois era assim:

Minha mãe: Tem mochila azul?
Chinês: Azu não, tem vemelo, marelo, vedi.
Minha mãe: Tem que ser azul
Chinês: Quaqé cô. vedi, vedi ta bom.

E começou a empacotar todas as mochilas verdes que ele tinha, não sei se ele não entendeu que tinha que ser azul...

Teve uma vez também que a minha mãe comprou um óculos em uma loja e depois achou um igual em outra loja de outro chinês. Ai sente o diálogo:

Chinês: Leva, dona, óculus olizinal.
Minha mãe: Eu acabei de comprar um igual
Chinês: Quanto?
Minha mãe: Cem reais.
Chinês para outro chinês: huhuhuahuahuahauahuahuaha

Achamos melhor sairmos de lá....

As vezes também eles são um pouco mal humorados, teve uma vez que a gente entrou em uma loja e a chinesa veio pra nos atender e falamos o clássico “só estamos olhando” e a descarada respondeu: Se não vai complá, não olha. Juro, é verdade.

Comprar eletrônico lá é muito divertido. Esses dias tinha um MP3 da “çoni” mas que o adesivo da Sony tava colado de cabeça pra baixo. E o vendedor (esse era brasileiro), quando eu perguntei a marca, porque eu achei estranho aquele adesivo de cabeça pra baixo me respondeu: - Ah, não sei, marca nenhuma eu acho, tem um adesivo da Sony, mas é a gente que cola. O.o

Ai eu entendi o motivo do adesivo torto, mas achei melhor nem falar nada, afinal, ele não era chinês e na vinte e cinco a gente tem que comprar só de chinês.

Ai resolvi comprar o MP3 de um outro chinês do fundo da galeria. Porque quanto mais escondida a loja, mais baratas são as coisas.

Eu: Tem MP3?
Chinês: Xim, de tlês, quatro ziga.
Eu: Quanto é?
Chinês: Qualênta tlês.
Eu: E tem desconto em dinheiro?
Chinês: Qualênta tlês.
Eu: E vem com cabo USB?
Chinês: Qualênta tlês. O.o

E tem uns carrinhos de som tocando funk, musica sertaneja, musica velha no meio da rua, que eles usam pra divulgar todos os CDs falsificados que eles vendem, ai você anda e sempre tem uma musica em algum lugar. Tem também uns caras que vendem abacaxi, milho verde, e uns queijos derretidos no meio da rua. O milho é uma delícia. Eu tenho uma tia que é insuficiente renal e ela não pode comer esses milhos, mas se a gente perder ela de vista, pode ter certeza que ela ta escondida comendo um kilo de milho verde.

Essa minha tia é um capítulo a parte, ela é insuficiente renal, faz hemodiálise, tem 1,45 de altura, é um pouco distraída e adora a vinte e cinco de março!! Uma vez ela saiu da UTI em um dia e no outro ela nos acompanhou em uma voltinha por lá. E várias vezes ela vai sozinha mesmo, pega um ônibus e se manda pro centro de São Paulo.

A parte da rua é divertido, além dos carrinhos de música e do empurra-empurra e do cara do milho e do abacaxi, tem uns caras que vendem um apito que modifica a voz quando você fala com ele na boca e eles ficam gritando: Aiiii titiaaaa. Com aquela voz meio de pato donald.

É que na rua eles fazem demonstração de tudo que eles vendem, então, se eles estão vendendo aqueles jogos de bolinhas e raquete, eles ficam jogando as bolinhas um pro outro no meio da rua, ai tem o cara do massageador, que você passa e eles esfregam aquilo nas tuas costas. Tem o cara do depilador de pêlo de nariz, esse eu não vi demonstração, mas eles estão sempre lá. É ai vem o cara do abacaxi te oferecer um pedaço que ele cortou com o super fatiador que ele quer te vender, 3 por R$ 5,00.

O que eu acho legal na vinte e cinco é porque é um lugar totalmente democrático. Lá você encontra sacoleira, patricinha, prostituta, aposentado, bandido, polícia, madame, chinês, coreano, brasileiro e árabes. Acho que essa é a análise mais legal que podemos fazer de lá, é um lugar onde todos são bem vindos e se você se despir de preconceitos, tenho certeza de que vai adorar a Vinte e Cinco de Março.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sobre a Teoria da Relatividade

Um dos filmes que mais marcou minha adolescência foi “Em algum lugar do Passado”. É um filme lindo, em que um escritor se apaixona por uma atriz de 1912 por uma foto dela em um quadro de um hotel. A paixão é tanta que ele encontra uma forma de voltar ao passado e viver esse amor. O filme é maravilhoso e a trilha sonora, perfeita.

Viajar no tempo sempre foi tema de discussões, motivo de instigação... é possível? Einstein com a Teoria da Relatividade, abriu a possibilidade, para que, pelo menos, na teoria isso fosse possível. Hoje sabemos que os cientistas são capazes de tele transportar partículas de um lugar ao outro, quem sabe, não é?

Mas imaginemos que em 1989 alguém tivesse uma máquina do tempo e apertado um botão que transportasse ninguém menos do que Luis Inácio Lula da Silva, até 2008 e o colocasse sentado no sofá da sua sala, ia ser difícil explicar certas coisas...

Aquele Lula se materializa “Puff” na sua sala, meio tonto, você se assusta, mas depois reconhece a camiseta vermelha, com uma estrela branca no peito, com dizeres “Lula la, brilha uma estrela, Lula la um Brasil criança, Lula la”, com aquela cara de 20 anos atrás.

- O que é isso, companheiro? - Onde eu tô?
- Com licença, excelência, mas estamos no futuro. Precisamente em 2008.
- Futuro? Logo agora que vou ganhar do Collor, pô! Nãooo, me manda de volta pro passado! Cadê o Zé Dirceu! Zééé ? Cadê o Zé?
- Calma, Lula. Já que estamos aqui, vamos dar uma olhada no seu futuro!! O Senhor é o presidente da República!
- Sério que eu ganhei?
- Bem, não dessa vez, o Collor levou. Mas depois ele sofreu um impeachment e bem depois o senhor ganhou. Foi eleito em 2002. E reeleito em 2006!
- Eu??? Reeleito? Deixa eu ver, bota aí!!!

E então Lula se estica no seu sofá e diante da sua TV de plasma e assiste a um documentário sobre os últimos 20 anos do Brasil. Um sorriso escapa quando a eleição de 2002 é apresentada.

- Pô, fiquei bonito! Ué, Cadê o Zé?? E o Genuíno?? Aquela ali abraçada comigo não é a Marta Suplicy?
- Não, Presidente, aquela ali é a Marisa Letícia.
- Olha só! Eu e o Papa! E aquele ali, quem é?
- É George Bush, o Presidente dos Estados Unidos!
- Eita eita eita, tem algo errado... Aquele ali abraçado comigo não é o Sarney? Com a Roseana? E o que é que o Collor tá fazendo abraçado comigo? O que é isso? Tá de sacanagem? Que porra é essa?
- Não, presidente. Esse é o futuro!
- AAAAhhhhhh! Olha lá o Quércia me abraçando! O Jader Barbalho! Cadê o Genoíno? Cadê o Zé Dirceu?
- Bem, Presidente, o senhor cortou relações com eles.
- Como que é? Meus amigos? Me separei deles e fiquei amigo do Quércia?
- Pois é...
- E aqueles ali? Não são banqueiros? Porque eles estão sorrindo pra mim?
- Estão agradecendo, Presidente. Os bancos nunca tiveram um resultado tão bom como em seu governo.
- Bancos? Como assim os Bancos? Você tá de sacanagem!!
- Calma, Presidente. O povo gostou, reelegeram o senhor com mais de cinqüenta milhões de votos!
- Mas não pode! Cadê os proletários? Só tô vendo nego da elite ali. Olha o Vicentinho de gravata! E o Jacques Wagner também! Mas que merda é essa?
- É o futuro, Presidente.
- E o Walter Mercado? Tá fazendo o quê ali?
- Aquela é a Marta Suplicy, Presidente.
- Ah, não. Não quero! Não quero! Não quero aquele meu terninho. Não quero aquele cabelinho. Não quero aquela barbinha. Desliga isso aí!
- Mas Presidente, esse é o futuro. O senhor vai conseguir tudo aquilo que queria.
- Não, me manda de volta pro passado. Essa tal de teoria da relatividade é um perigo.
- Perigo?!
- É. As amizades ficam relativas. A moral fica relativa. As convicções ficam relativas. Tudo fica relativo.

Pois é, Presidente, pois é... é que a gente muda com o tempo..