quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Sabe a Teoria do Caos? Então...

Diante do momento trágico que passamos em Santa Catarina, não há como não pensar nas ironias da vida, nos caminhos do destino, nas impotencialidades diante de catástrofes, a eterna batalha entre a ordem e a desordem, a harmonia e o caos.

O caos, na abordagem científica da Teoria do Caos, é um comportamento sem lei, inteiramente sem previsibilidade a partir do momento em que a casualidade interfere em uma ordem existente. Cientificamente falando, os sistemas obedecem a leis imutáveis e por isso, previsíveis, no entanto, quando o fator causalidade interfere nesse ambiente provoca irregularidades, é esse o momento do caos.

Exemplificando: Vamos imaginar que o departamento de transito tenha todas as informações daquele ambiente reunidas. Saiba o mapa da cidade, a sincronia de todos os semáforos, a velocidade média de todos os carros, o numero de carros exatos que circulam naquela determinada hora do dia e a origem e o destino de cada carro e coloque todas essas informações em um sistema que possa prever todas as situações possíveis e então manter o trânsito fluindo. Essa é a ordem, o sistema previsível.

No entanto, um único motorista que se distraia e encoste no carro da frente provocando um engavetamento de carros quebrará a ordem instaurada e esse é o momento do caos, quando a eventualidade, a fatalidade, a casualidade interferem em um sistema ordenado ocasionando situações totalmente imprevisíveis. Um relógio como um símbolo de ordem universal tem seus movimentos previsíveis porque suas peças se encaixam perfeitamente, podemos prever seu comportamento em anos.

Por isso, e ainda pensando nas ironias da vida, no destino, acho que nem sempre fazer tudo certo, com regras e metodologias nos dá o controle do nosso futuro e da nossa história. Existe um espaço para o acidental que precisa ser avaliado como fator de impacto no destino. Todos conhecemos histórias de pessoas que no último minuto, por fatores pequenos e acidentais, não entraram em um carro que se acidentou, que perderam o avião que caiu, e de pessoas também que por causalidade estavam onde não deveriam estar no momento de uma tragédia. É a fatalidade interferindo na ordem natural das coisas. É uma simples eventualidade definindo a diferença entre viver ou morrer. É o que os cientistas da Teoria do Caos chamam de “Efeito Borboleta”.

E é por isso que em uma abordagem menos científica, o Caos e sua teoria nos mostram uma perspectiva não sobre o destino, mas sobre uma “idéia de destino”. Classicamente, pensamos que os acontecimentos devem ser aceitos, pois o destino é traçado e seus acontecimentos previstos, no entanto, por essa abordagem, percebemos que temos uma noção de previsibilidade, até o momento que a fatalidade, ou o “Efeito Borboleta” incide sobre essa ordem. O destino, sob essa ótica, até existe, mas ele é modificado toda vez que fazemos novas escolhas.

Talvez eu esteja simplificando demais, justificando uma tragédia como sendo apenas uma desordem no sistema ocasionada por uma fatalidade, mas o fato é que não estamos preparados para o imprevisível, para o incontrolável, para o que nos foge, para o que não conhecemos, para o incerto e no momento em que uma fatalidade nos acomete não encontramos muitas respostas e nem muitas explicações.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Blumenau está de Luto

Eu moro em Blumenau. E eu, como o restante da população, estou de luto. A cidade foi destruída nos últimos dias por chuvas, enchentes, enxurradas, deslizamentos, desmoronamentos, soterramentos, desabrigados, desaparecidos, mortos. Ruas inteiras sumiram, pontes caíram, pessoas foram engolidas pela terra, casas foram arrastadas, pessoas que perderam tudo, seus poucos bens e suas forças. Entre os escombros, fotos, memórias, brinquedos e os corpos de mãe e filha abraçadas. Morreram abraçadas.

É indescritível o cenário de pós-guerra que ficou de uma das mais belas cidades do Brasil. Não é a primeira vez, é bem verdade, Santa Catarina, em um total contra senso às suas belezas naturais, sempre sofreu com intempéries climáticas, no entanto, o desastre do último final de semana foi o pior de toda história. As vítimas não foram escolhidas por sua condição social, nem pelo seu endereço nas periferias da cidade. Casas bem construídas em bairros nobres também se transformaram em um monte de barro.

Serão milhões de reais para reconstruir a cidade, anos de trabalho, mas existem marcas que talvez nunca possam ser apagadas e lembranças que nunca serão esquecidas. No entanto, não subestime nosso povo. Essa cidade tem uma força impar, que trabalha muito, são gerações herdeiras da segunda grande guerra, um povo que não se entrega, que não se cansa e com uma capacidade incoercível de recomeçar. E essa sempre será a nossa escolha

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Amor nos tempos da Lei Maria da Penha

O Brasil inteiro ficou sabendo na semana passada que a atriz Susana Vieira se separou de Marcelo Silva. Só relembrando, eles eram casados e ele já tinha a traído com uma garota de programa em um episódio em que ele quebrou um quarto de motel. Logo depois foi expulso da PM por ser usuário de droga e meses após a amada perdoa-lo, iniciou um caso com essa estudante, de nome Fernanda. A moça após perceber que ele não iria largar a esposa ligou pra Susana Vieira e contou tudo!!! O digníssimo senhor foi atrás da moça e encheu ela de pancada e isso tudo acabou em delegacia, páginas de jornal e em vários boletins de ocorrência contra o ex amante.

A atriz Susana Vieira, expulsou o moço de casa, cortou todas as suas mordomias (suas e de sua família, a quem a atriz sustentava) e se cercou de seguranças para que ele não chegasse mais perto dela. Marcelo Silva, por sua vez, foi na TV, há uma semana atrás falar que amava Susana e que tudo que ele queria na vida era ser perdoado.

Ai, ontem, os dois pombinhos, Marcelo e Fernanda foram a um programa de TV falar em rede nacional que se amam. Ela perdoa ele e ele quer se casar com ela e constituir uma família juntos e serão feliz para sempre!! Hummmm??? Como assimmmm????
Eu não tenho nada com isso, nem com a vida dos dois, ele é na melhor das hipóteses um estelionatário que usa dos seus atributos físicos para conseguir alguma vantagem sobre mulheres vulneráveis. Não é nada pessoal contra o Sr. Marcelo Silva, porque isso não é problema meu, é caso de polícia. Minha indignação é com essa Fernanda, a ex amante, ameaçada de morte e espancada por ele, porque eu não consigo entender o conceito de amor sustentado em agressão, em ameaças, em traições.

Vivemos em um país livre, fui criada para repudiar qualquer manifestação de violência e é assim que criarei meus filhos. Acredito, sobretudo na capacidade que o ser humano tem de amar, vivemos em uma época da lei Maria da Penha, onde as agressões físicas contra mulheres são tratadas com rigor e a punibilidade contra os agressores é cobrada. Sou uma representante das mulheres que vivem, trabalham, estudam, batalham, decolam um avião por dia, criam seus filhos, amam e buscam ser amadas.

Ainda não aceito, no entanto, entendo, as condições sob as quais algumas mulheres por dependência física ou emocional do companheiro acabam se submetendo, por falta de opções ou oportunidades. Mas não é o caso da estudante citada, é bem nascida, estudada, bem criada, também amada por sua família e amigos. Ela está cheia de opções e de oportunidades.
O fato narrado é triste, para nós mulheres que tanto lutamos por dignidade de tratamento por parte dos nossos companheiros, que vivemos uma realidade que custou a vida de muitas mulheres, que foram mortas e antes, violentadas e espancadas. É triste saber que a luta de vida dessas pessoas não modificou a realidade de alguns. É mais triste ainda ver uma violência justificada como um ato de amor, não se ama quem nos machuca. Não sei, tenho um outro conceito de amor.

Espero uma sociedade mais justa e um tratamento mais pacífico entre as pessoas, mas temos todos uma responsabilidade velada por nossas opções. Somos nós quem construímos nosso destino a partir das escolhas que fazemos.