segunda-feira, 31 de março de 2008

Dor-de-cotovelo

Eu tenho uma teoria...
Por que alguns amores nos assombram pelo resto da vida? Porque não conseguimos nos livrar da lembrança de certas pessoas? Entra relacionamento, acaba relacionamento e por vezes, você se pega procurando alguém igualzinho ou bem parecido para substitui-lo. Seja muito bem vindo, pois quase a totalidade da população mundial sofre de dores mal curadas, paixões mal resolvidas e qualquer outro nome que você queira dar para a “dor-de-cotovelo”.
E como dói, mas o mais estranho é que as dores-de-cotovelo nos doem de uma forma patológica, isso mesmo, patológica, como se fosse uma doença, um mal antigo, um dente do ciso, algo que de vez em quando aparece e dói. As vezes, passam-se dias, semanas, meses, anos e os dias transcorrem na sua normalidade e em uma manhã qualquer, uma noite qualquer, ela volta, de mansinho junto com todas as lembranças do que vocês viveram, ai ela aumenta, e começa a doer pra caramba, chega a sair lágrimas dos olhos, de tanto que dói.
Acho que o que dói mesmo é a coisa não vivida, o quase amor, o não ter feito, o não ter sentido, o não ter acontecido, o não ter falado, o não ter feito, o não ter resolvido. Dói porque acaba quando ainda se faltava muita coisa para fazer, quando ficou muito a ser dito, quando o amor não é vivido e quando falta isso tudo, conseqüentemente sobra fantasia, idealizações, sonhos recheados de casa de praia, cachorro labrador e edredons em noites de frio.
Mas médico nenhum diagnostica isso e também ainda não inventaram remédio que a cure ou que pelo menos amenize-a, existem sim, soluções paliativa, como sair com as amigas, devorar uma caixa de chocolate, comprar uma calça nova, abraçar uma criança, tomar um banho de mar, pisar na grama, ver desenhos nas nuvens, olhar as estrelas, ver desenho animado, tirar o dia de folga, ver o dia amanhecer, ver o por do sol, jogar pedrinhas no rio, sei lá, qualquer coisa que te faça sentir viva e sufoque o vazio que fica.
O problema é que os amores precisam dar a volta, fechar o ciclo, voltar-se em si mesmo, é isso que nos deixa livre, mas como esse é um processo mais complexo que a explicação da origem do universo, o consolo é que tirando os dias (e as noites, sempre as noites...) em que a dor-de-cotovelo incomoda, você até consegue conviver com ela, é só você não cutuca-la e ela não te machuca.

sábado, 29 de março de 2008

Por que compensa?

Eu tenho uma teoria...

A ciência diz que a morte é quando o corpo não responde mais aos sinais vitais e não reage a nenhum estímulo. Pois bem, eu, na minha insignificância vou dizer o que eu acho da morte.

Morremos quando deixamos de sonhar, de ter esperanças, e concordo com os especialistas principalmente na parte do “não responder aos sinais vitais”. Acho que quando a gente não responde mais aos sinais vitais deixamos mesmo de viver. Mas sinal vital é muito mais do que ter o coração batendo e o pulmão respirando.

Dizer que alguém está vivo só porque o coração está batendo é limitar demais nossa condição. Estamos vivos também porque temos amigos, família, rodas de bar, filmes do Almodóvar, torta de maracujá, lua cheia, cremes anti-rugas e quase sempre temos uns aos outros. E isso é fundamental, essencial, vital.

Vital é a paixão, ciúme, raiva, sol, praia, pés na areia, frio na barriga, água, suor, dor de cabeça, mágoas, elogios, momentos, projetos, beijos, filhos, café, Chico Buarque, Cazuza, Oswaldo Montenegro, e um Noturnos de Chopim. É a dança, a graça, os cheiros, sabores e gostos, amores e desamores, os meus, os seus, os nossos medos, fatos, as verdades e mentiras de cada um. Temos ainda pistache, manhã de feriado e Drummond.

É vital porque a vida, por isso tudo, acima de qualquer coisa, faz valer a pena. E quando chegar o acerto de contas (sem nenhuma conotação religiosa de juízo final), aquele acerto de contas, você com você mesmo, aquele de quando a brincadeira acaba e contabilizamos os pontos, sabe o que acontece? A gente ignora a partida, sorri e brinda ao descobrir que compensou morrer de tanto viver.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Fake Love

Eu tenho uma teoria...

Certa noite dessas, conversando com um amigo, vínhamos filosofando sobre o amor, sobre a veracidade da alma gêmea, é porque, sim, claro, chegamos a questionar sua existência, e acabamos percebendo que vira e remexe acabamos caindo na mesma pergunta sem resposta: Por que estamos sozinhos?

Não, definitivamente, nem eu, nem ele temos perfil para solteirões convictos. A solteirisse é uma condição e não um estilo de vida. E chegamos à clássica conclusão de que estamos sozinhos por opção, mas por opção dentro das alternativas que temos, o que é bem diferente de querer estar sozinho, de cultivar a solteirisse. Nossa opção se dá por faltas de alternativas, e porque não dizer, porque somos românticos demais para um mercado que banalizou o amor e as suas formas.

Sabe o que eu acho? O Amor exige coragem e hoje, encontramos um grande numero de covardes amontoados e escondidos dentro de suas próprias frustrações.

É bem mais fácil falarmos que estamos sozinhos por opção, é mais fácil do que admitir que aquela pessoa é perfeita demais para os seus planos medíocores e que não cabe nos seus sonhos.

O amor exige demais, e nos tempos de fast-love, é uma grande dificuldade e pesar aceitar que não se pode, ou não se é capaz de amar de verdade. É isso que eu acho sim, falta coragem para amar de verdade. É, porque há o tipo fake de amor, aquele por conveniência, por consumo, programados para durarem uma noite, baseado no domínio e na razão, que servem para legitimar uma conquista, não é desse que estávamos falando. Esse tipo, tanto eu, quanto o meu amigo, aquele que originou toda essa conversa, temos nomes suficientes para fazer uma boa lista. Desse estamos cheios, fartos e porque não dizer, cansados.

O fato é que, viver é fazer decolar um boeing por dia, viver a dois é tarefa ainda mais árdua. Em tempos de competitividade e individualismo, defender-se e esconder-se em sua mediocridade, parece ser mais fácil do que entregar-se.

A conversa terminou, quer dizer, não terminou, porque falar de dores emocionais é a própria história sem fim, é um assunto que nunca se escassa, nunca acaba, mas enfim, finalizamos, pelo menos por ora, nos perguntando, se o amor a que nos referimos e a quem culpamos pelo vazio que sentimos existe mesmo, porque o idealizamos em uma conjuntura perfeita dos poetas do século 12 com as cenas do cinema americano.

Não conseguimos responder essa pergunta também, ela ficou na pauta pra próxima roda de bar, mas falar, mesmo que redundantemente sobre o mesmo assunto, alivia certas mágoas e exorciza os pesares.