Eu tenho uma teoria...
Acho que todo mundo tem um manual de instruções, uma bula, quando, onde e principalmente como ser manuseada, não posso falar pelos outros, falo por mim, por mérito e por convicção.
Se me ver, pode chegar perto, mas não invada muito bruscamente porque posso me assustar, mas também não muito devagar, porque eu posso dormir.
Não use da estupidez comigo, porque costumo ser intolerante com esse tipo de atitude, também não levante seu tom de voz porque eu posso revidar.
Durmo muito e acordo de mal humor de manhã, então, até eu absorver a idéia de que eu estou acordada, não faça movimentos repentinos.
Faça cafunés, toque os meus pés e não precisa ser sincero, basta ser convincente ao dizer que eu sou linda mesmo de chinelo e camiseta branca.
Ando com as minhas próprias pernas, por isso fazer com que eu perceba sua ausência pode ser mais eficaz do que me sufocar com a sua constante presença.
Procure me deixar horas em um restaurante, tomando vinho e falando sobre coisas inteligentes, não precisa ser uma revisão da lógica de Kant, mas desde que eu não tenha vontade de ir embora e que eu dê boas risadas.
Mas por favor, falar em rir, escolha bem suas piadas e pense duas vezes antes de me contar, porque não tenho muito bom humor para piadas.
Sugiro algumas viagens antes de me conhecer, alguns livros e algumas boas músicas e uma dose extra de algumas decepções, para que você não espere muito de mim e para que eu possa ter a oportunidade de te surpreender.
Por favor, não seja leviano e acredite no que eu falo, mas acredite também nas minhas mentiras, tenho o péssimo hábito de fazer jogos com palavras só pra confundir.
Respeite minha necessidade de ficar sozinha as vezes, e nessas horas, volte só se eu te chamar, mas nem por isso me obedeça sempre, eu erro as vezes e gosto de pessoas mais fortes do que eu e que mais do que isso, demonstrem essa fortaleza de vez em quando.
Se vista bem, mas saiba chamar minha atenção com a camisa pra fora, mas principalmente deixe a barba por fazer e o cabelo bagunçado.
Tome decisões, mas não tente toma-las por mim, escolha seus caminhos, trace suas rotas e não dependa de mim pra fixar seu norte.
Escolha suas músicas e seus livros, mas leia-os e leia-os de novo e de novo, leia os clássicos, mas não se intimide com o novo.
Não precisa saber lavar, passar, cozinhar, alias, se puder odiar a vida doméstica e preferir surfar ou voar ou caminhar ou cavalgar, melhor.
Goste do agito da noite, mas prefira um jantar a dois, ser menos da noite e mais da vida faz parte da maturidade.
Se interesse também por desenhos animados, principalmente os antigos e por isso seja um pouco nostálgico, mas não seja triste, não gosto de gente triste ao meu lado, não sei lidar bem com isso, mas se interesse também por filmes, jornais e atualidades, mas sem se tornar escravo da televisão.
Aliás, nem da televisão, nem do emprego, nem de mim e nem de nada, só poderemos andar juntos se cada um andar com as próprias pernas. E por isso não seja nem meu escravo, nem meu amigo e principalmente não queira ser meu pai e muito menos meu filho.
Esporadicamente, faça uma loucura por mim, me mostre o lado insano das coisas, me surpreenda.
Goste de vinho, entenda de vinho, entenda de vinho, chocolate, arte e sexo.
Goste de mais vinho e menos de cerveja e por favor, saiba beber com elegância, saia com seus amigos e não me conte todos os seus segredos.
Chore, tenha insônia, eleja uma contravenção, cometa menos excessos e mais pecados.
Tempo
Há um dia