terça-feira, 19 de outubro de 2010

Por todo o resto

Por mais que riam as caras e que ternura se esqueça, por mais que o amor prevaleça... Vocês fizeram os dias assim...

Passei a noite acordada. Em dias assim, não durmo, me despedaço, me desfaço, não me reconheço. Costumo perceber a (falta de) qualidade da minha vida pela quantidade de horas que passo pensando em sumir.

No meu mundo perfeito, eu não teria escorregado na saída de casa, não teria perdido meu celular, o juiz teria deferido meu pedido, eu teria almoçado bem, teria conseguido olhar pro meu umbigo sem o peso do mundo nas minhas costas, não teria me sentido atolada nesse planeta cinza tentando dar passos sincronizados para sair, mas desejando profundamente me afundar de vez. Não, não é o mundo... “mea culpa”, sem dúvida, essas e todas as outras.

Eu que ainda não entendi o difícil é o processo de compreensão de que as coisas na maioria das vezes não depende da minha vontade de fazer com que elas aconteçam e que fingir, mesmo que com convicção, não torna uma mentira em verdade.

A reticência sempre me acompanhou...

terça-feira, 20 de julho de 2010

Eu nunca tive vocação para o que é hipocritamente correto, nunca soube ser menos, nunca soube entrar sem deixar cair algo no chão. Nunca soube ceder sem querer me vingar depois, nunca soube ir embora sem soluçar.

Sempre quis que a vida me mostrasse qualquer coisa que não se limitasse ao alcance da minha vista. Sempre tive pavor de constatar que mundo acaba só ali. Sempre exigi da vida um passeio pelo Sena, uma tarde em Veneza, um chocolate quente em Praga.
Nunca soube me deixar seduzir pelo o que não me acrescenta, pelo o que não me apaixona, nunca soube me entregar à algo que não fosse por acreditar verdadeiramente nela.

E, me sufoco. Me sufoco e escrevo. Exorcizo meus pensamentos com palavras, como se eu pudesse descascar meus pensamentos, até expô-los. Por isso mesmo, escrever é minha calma e meu inferno. Minhas palavras me acalmam e me perturbam.

Não faço dramas à toa, já fui bem mais intensa, hoje sou mais serena, uma serenidade que até me cansa. Uma serenidade contraditória. Intelectual apenas, eu diria de passagem. Porque eu continuo chorando muito e rindo com a mesma intensidade, as vezes, ao mesmo tempo. A diferença é que hoje eu sorrio muito mais com os olhos (janela da alma, talvez?), mas ainda choro encolhida, abraçando as pernas, de cabeça baixa.

Por isso, vida, não me venha com trelelés, com mais ou menos, com qualquer coisa, com assim mesmo, com qualquer jeito. Me venha sem seus baixos, só com seus altos.

Sei que tenho medo de altura...mas me fascino pela profundidade...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Conversas no Divã...

- Minha terapeuta: Como voce está se sentindo hoje?
- Eu: Antes de ser qualquer coisa, acho que sou alguém que não aceita viver relações desonestas. Em nada, com ninguém, sob nenhuma hipótese.
(...) Uma menina correndo atrás para ser uma grande mulher. E que quer ser feliz. E essa condição, acredite, passa necessariamente por nós dois, por mim e por ele. Passa também por conseguir diluir o medo, então é por isso que volto, perco a hora, entrelaço os dedos e fico um pouco mais.
(...) Eu queria perder essa mania de ficar olhando a porta...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Dia desses na estrada, não me lembro bem qual era o nosso assunto, mas por algum motivo me virei para você e disse que você era o primeiro homem para quem eu estava falando aquilo. E você, com seu romantismo sarcástico me respondeu: “O primeiro e o último”.

Sim, meu amor. O último sim. O último amor, o último homem, o ponto final, o fim da linha, o fim da estrada, o fim da busca.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Canção para ninar gente grande

Ontem foi um daqueles dias que você não dormiu aqui comigo. Às vezes eu penso que estou acostumada, que é só mais um dia, que esperar uma noite ou duas pra ter você de volta é tão pouco perto dos 29 anos da minha vida que esperei por você, mas sua ausência se agiganta ainda mais quando cai a noite.

O dia de ontem transcorreu na sua tranqüilidade habitual, consegui chegar cedo em casa, quando abri a porta do apartamento, uma onda gelada chegou nas minhas costas, eu até cheguei a checar as janelas, crente que alguma tinha ficado aberta. Mas logo o silencio perturbador me ajudou a lembrar que a tua ausência é gelada mesmo, é calada, é cinza.

Piorou quando eu fui tomar banho, tenho certeza que a reforma do prédio afetou nosso encanamento, porque a água hora estava fervendo, hora congelando. Logo me lembrei o motivo.

Eu tinha tido uma crise de insônia na noite retrasada o que me deixou extremamente sonolenta depois do banho. Sai, vesti uma camiseta qualquer, deitei na nossa cama, assim, sem ligar a TV, sem brincar na internet, sem jantar. Simplesmente deitei e dormi, provavelmente antes mesmo de terminar o Jornal Nacional, mas não sei, nem olhei no relógio.

É como se eu sozinha tivesse uma vida pela metade, onde eu só faço o extremamente necessário para a continuidade dela. Só. Nada mais existe além do extremamente necessário para continuar a respirar. Sem você a casa fica fria, a cama vazia, a TV calada, as sombras imóveis. Sem você a rotina fica pesada demais, as horas não passam, eu não me basto.

Sem você a casa não tem filme com pipoca (e choro), não tem banho quente, não tem jantar a quatro mãos, não tem comemoração ao amor com brinde de champagne, não tem musica, não tem conversa antes de dormir, não tem cheiro de shampoo, não tem beijo de boa noite.

E hoje também eu não me espero para jantar!!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A PUXADA DE CAVALOS NÃO É DIVERSÃO, É TORTURA!!

Desde há muitos anos, nós, cidadãos catarinenses providos de um mínimo de humanidade e bom senso lutamos pela abolição da prática da farra do boi no estado de Santa Catarina como uma forma de expressar uma indignação maior, que é pela abolição de todas as práticas, individuais ou institucionalizadas, de todo e qualquer ato de abuso e maus-tratos aos animais, e esta sim, para nós, protetores e ativistas ambientais, é uma luta diária.

O crime da farra do boi, por si só cruel, é vergonhoso para o estado de Santa Catarina, e repulsivo sob todos os pontos de vista, social, moral e legal, e já conseguiria sozinho nos envergonhar. Já dizia Mark Twain: O homem é o único animal que cora, ou melhor, que tem motivo para corar.

O que dizer então da prática igualmente cruel da puxada de cavalos?

Mais uma prática arbitrária, desmedida e cínica onde nós “humanos”, usamos os cavalos para nos divertir às custas de seu sofrimento e em nome da tradição. Consiste em uma corrida estúpida, entre dois cavalos que são obrigados a puxar toneladas de peso, rompendo muitas vezes as articulações, caindo com dor ao chão, sendo estimulado por chutes e pedradas. O objetivo é: Provar como o ser humano é estúpido!

A ultima puxada de cavalos ocorreu em Pomerode-SC, a cidade mais alemã do Brasil, um lugar de verdes pastos, pessoas loiras de olhos azuis, senhores educados em praças, um dos índices de qualidade de vida mais altos do Brasil, mas que presenciou um ato covarde e desmedido no último dia 18. Como se não bastasse a manifestação medieval de imbecilidade coletiva em nome de uma tradição cínica, os manifestantes de proteção aos animais, mulheres em sua maioria, foram agredidas covardemente pelos organizadores do “evento” com paus, pedras, ovos podres, ameaças de morte, humilhações. Muitas saíram machucadas, estão hospitalizadas, passaram por cirurgias.

Essa situação vem corroborar uma conhecida tese de psiquiatras forenses de que quem pratica tortura e crueldade contra animais, facilmente a pratica contra pessoas, pois é desprovido de qualquer sentimento de humanidade e compaixão pelo próximo. O valor em questão, que é a vida e a dignidade de um ser vivo é absoluto e diante dessa essência, o crime é o mesmo. Não há mais trigo, vira tudo joio.

As manifestantes foram tratadas com a mesma humilhação, o mesmo desrespeito, a mesma violência. A diferença é que elas podem se defender, diferente dos animais que não podem e não sabem como se defender. E não lhes resta outra alternativa a não ser se submeter, se curvar, se escravizar, para que nós, os humanos, seres “racionais” o utilizemos deles para nossa diversão.

Essa lógica perversa é a mesma da farra do boi, dos rodeios, das touradas, das rinhas de galo, circos com animais. Portanto, o que está em discussão não é a prática em si, não é o clássico conflito entre direitos dos animais e direitos culturais. Não, o que se debate aqui é uma cultura só: A cultura da violência gratuita, como se a legitimidade social conferida à violência contra os animais, justificasse moralmente todos os seus desdobramentos igualmente violentos.

Perfeito Maicon Teffen no Jornal de Santa Catarina: (..) Brinquedo de quem sente necessidade de chegar à frente do vizinho, escancara o nosso desprezo a tudo que se encontre fora dos padrões de ordem e progresso. Concluído o processo civilizatório do Vale do Itajaí, os pomeranos e seus descendentes resolveram torturar cavalos para não se suicidar de tédio (...).

E que bem lembra que justamente no momento em que Pomerode coloca a puxada de cavalos em seu calendário oficial, e sem deixar de lembrar que se a grandeza de uma nação é julgada pela forma como trata seus animais (Gandhi) é importante se questionar que tipo de precedentes estamos criando em nome de uma tradição, de uma cultura, que até onde vimos, só propaga violência e sofrimento.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O que aprendemos com as crianças

Dia desses, semana passada, estávamos eu e uma grande amiga, fazendo aquele que é nosso programa favorito: Sair pra jantar!!

Um friozinho no deck, uma comidinha deliciosa e uma conversa de primeira.

O ponto alto da conversa foi quando ela me contou que a sua sobrinha, uma graça de criança, toda mimosa e princesinha tinha terminado o “namorinho” dela com o Mateus pra ficar com o Victor.

O tal do Mateus estava arrasado, não queria mais fazer as atividades, não saia mais para brincar na hora do “recreio”... tadinho do pobre Mateus, aprendendo cedo como são complicados os problemas do coração.

À conquistadora, sobrinha da Juli, restou perguntar o porquê dela ter terminado com o Mateus, um menino que estava sofrendo tanto, para ficar com o Victor, ao que ela responde: “Porque ele não queria me emprestar o lápis de cor”.

Vi aquilo tudo com uma nostalgia tão boa, tão saudosa, porque é bom ver a inocência daquela menina, tão pequena e tão segura. Não pensou duas vezes, dispensou o Mateus, por um motivo que pra ela pelo menos é importante.

O Mateus vai se recuperar, lógico, mas aprendeu cedo que as meninas gostam de ter seus desejos atendidos e um dia vai lembrar da mulher que ensinou isso pra ele no jardim de infância, perdida entre suas massinhas de modelar e seus lápis de cor.

A nossa protagonista também ao crescer vai ver que nos problemas do coração, as vezes a gente tem que ceder, voltar, respirar, dar uma segunda chance... e eu que as vezes brigo com mundo à toa, por bem menos do que um lápis de cor, aprendi que está na hora de crescer.